Nos anos lectivos anteriores tinha-me passado ao lado os vários relatos, ouvidos no café, no mini-mercado, no parque, sobre o ingresso no infantário (Creche ou Pré-Escolar), de bebés de 12, 13, 14, 24 meses, ou de crianças de 3, 4 anos...
Este ano, talvez por ter nos braços um bebé de 18 meses, este fenómeno está a mexer imenso comigo. Dói-me a alma ouvir tantas, mas tantas vezes: "ficou aos berros, a educadora teve que mo arrancar dos braços", "fica a chorar imenso, mas a educadora diz que se cala ao fim de 5 minutos, é só chantagem", "tem de se habituar, é o melhor para ele, em casa não aprende nada", "quando o vou buscar, começa a chorar outra vez, a educadora diz que é chantagem".
Sem qualquer juízo de valor, a verdade é que isto DÓI. Dói-me a mim que oiço, imagino o que não dói a quem passa por isto (miúdos e graúdos).
Independentemente das razões (mais ou menos válidas, a meu ver) que levam a maioria das famílias a colocar bebés (crianças de 3, 4, 5 anos é outra história, que será assunto para outro post) em Creches, é importante referir que os bebés não fazem "chantagens", "fitas" e "dramas". Os bebés expressam aquilo que sentem.
No seu livro "Besame Mucho", o pediatra Carlos González refere: "Ramón (tem quase 2 anos) mostra as várias reacções características de uma separação: agarrar-se como uma lapa à mãe e exigir atenção contínua, mostrar-se aparentemente tranquilo e cooperante quando está no infantário, mostrar-se inqueto quando o deixa... Parece que é precisamente o facto de não chorar quando se encontra no infantário que convence a mãe de que tudo não passa de teatro. Do que necessitaria a mãe para compreender que o filho sofre realmente? Que não pare de chorar durante todo o tempo que passa no infantário? Ninguém chora tanto. Perante as maiores desgraças e calamidades, o ser humano chora durante uns momentos e depois segue em frente (...) Deixar de chorar, mesmo no caso daqueles que se fazem fortes e tentam suportar com valentia a situação, não significa que tenham deixado de sofrer."
Ninguém gosta que os seus sentimentos sejam desvalorizados ou não reconhecidos como válidos. Reconhecer e aceitar o sofrimento do bebé/criança é meio caminho andado para chegar a bom porto, neste processo complexo que é o ingresso no infantário.